Arena Morada do Sol



Esta foto parece mostrar apenas um simples gramado verde dentro de um cercado _ e ao fundo há uma escola. Mas este gramado verde e estas cercas tentam esconder uma história que ainda vive na mente de muitos moradores destas cercanias.

Todo este quarteirão, onde hoje é uma escola, já abrigou rampinhas de bicicleta, parque de diversões e claro, vários campinhos de futebol. Não havia grama, era tudo chão de terra, com pedras em muitos lugares, que machucaram e calejaram os pés de muita molecada _ a maioria, eu incluso, jogavam descalços.

Estes campinhos não eram mantidos pelos poder público coisa nenhuma. Nós é que carpíamos, tirávamos as pedras, montávamos as traves e às vezes até jogávamos cal para demarcar os limites. A iluminação era apenas a do sol durante o dia, e a noite do poste da rua, o que nos obrigava a jogar apenas até quando fosse possível enxergar a bola.

Além da bola, muitos sonhos, risos, rivalidade e amizade rolaram neste espaço. Não faço ideia se algum perna de pau ou craque que por esse campo passou, se tornou jogador de futebol profissional, mas isso pouco importa. O que importa é que por alguns anos de nossas vidas, brilhamos com nossos gols, dribles e defesas. E se não tinha ninguém para aplaudir, era fácil saber que isso também pouco importava, bastava olhar no rosto de cada moleque ou cada moleca (infelizmente tinham poucas meninas) e sentir a alegria que exalavam.

Nos dias em que não trabalho, sinto um enorme vazio por volta das 3 e 4 da tarde, que era quando "baixava" o sol, e a maioria do pessoal ia para o campo jogar.

É difícil reclamar neste caso, porque os campinhos deram espaço para uma escola, algo muito mais necessário para a população. Você pode pensar: "mas a escola tem uma quadra", sim, isso é verdade. Mas a escola é vista pela prefeitura como um espaço unicamente de educação, e não de lazer e entretenimento. Portanto a escola fica fechada nos fins de semana, ou seja, o espaço da quadra é simplesmente negado para a população.

E o que mais me entristece, é passar por este quarteirão dia após dia, e ver que um espaço que poderia ser aproveitado pela população para o lazer, fica completamente inutilizado, por alguma razão difícil de entender.

Este não é o único local da cidade inutilizado, existem vários outros. E quem mais sofre com isso, são as pessoas que nem sempre tem dinheiro para o lazer. Nem todo mundo tem condições de visitar um shopping, parque de diversões ou se inscrever num clube para conseguir ter algum tipo de lazer, e ainda que tivessem, incentivar e prover o lazer em pontos acessíveis da cidade é uma obrigação do poder público.

Na falta de espaços, os pais, que tem medo de deixar seus filhos nas ruas, tentam prendê-los com produtos tecnológicos, tornando seus filhos sedentários, o que acarreta uma série de problemas de saúde no futuro. Um poder público minimamente responsável deveria entender a relação entre lazer e saúde.

A vontade que tenho é de juntar um pessoal, arrebentar estes cercados, ocupar o local, colocar traves e começarmos a jogar, contra a vontade de quem quer que seja. E acharia muito estranho, e ficaria muito triste, se descobrisse que apenas eu me sinto dessa forma.

A cidade vem se tornando, dia após dia, cada vez mais um espaço para a exploração do interesse privado. O fato de ficarmos trancados em casa sem termos onde ir, quando não queremos gastar dinheiro, é uma consequência direta disso, e infelizmente, parece que ninguém percebe.

Será que ainda é possível tomarmos nossa cidade de volta?

Homenagem

Este post também é em memória do meu amigo Dôzinho, com quem joguei bola durante muitos anos, que foi um dos que lutou, passando por cima de todas suas dificuldades, para que este espaço não morresse.

Um amigo que eu lamento muito não ter tido a oportunidade de ter me despedido. Mas alguém que admiro muito (mesmo sendo corintiano rs), porque viveu e respirou o futebol, e que nunca me deixava desanimar dentro de campo, seja ganhando ou perdendo...

 

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