Mentalidade Binária


Binário

Para entender a mentalidade binária, precisamos saber o que é binário:

A palavra binário vem de bi, que é o número dois.

Bicicleta, binóculos, bipartido, bicolor, etc.

Binário também é um sistema numérico composto pelos números 0 e 1.

00 -> em decimal isso é zero
01 -> em decimal isso é o 1
10 -> em decimal isso é o 2
11 -> em decimal isso é o 3

e assim por diante...

o importante é você entender que binário tem a ver com o dois =D

Falácia do Falso Dilema

Agora precisamos entender o que é falácia da falsa dicotomia, ou falso dilema:

O prefixo di, também está ligado ao número dois.

Dicotomia, é uma divisão em duas partes, divisão de um conceito em dois. Dilema é quando se deve fazer uma escolha entre duas opções antagônicas, insatisfatórias ou contraditórias entre si.

A falácia do falso dilema acontece quando alguém lhe impõe apenas duas escolhas, normalmente antagônicas ou controversas, quando se tem mais alternativas. Exemplo:

Se você não está por mim, está contra mim.

O fato de você não estar a favor de alguém, não implica que esteja contra automaticamente. Pode ser que você esteja contra, mas pode ser que não tenha uma posição definida, ou seja, está confuso, ou ainda, pode ser que você esteja neutro na situação.

A intenção do sofista é ignorar as alternativas que interessam para ele, e te fazer escolher o que lhe convém.

Quem conhece a falácia de Pascal, digo, aposta de Pascal, deve saber que ela é uma falácia de falso dilema além de apelo a ignorância e outras mais. No vídeo no fim do post ela será melhor explicada.

Mente Descontínua

Outra fator necessário para entendermos o que eu quero dizer com mentalidade binária, é praticamente este:

A mente descontínua _ muito bem explicado pelo Pirulla em seu canal _ video lá embaixo também.

A mente descontínua é nossa dificuldade de enxergarmos processos completos. Nós vemos apenas pedaços das coisas, e aqueles pedaços que estão no nosso dia a dia. Exemplo disso é a dificuldade de entendermos conceitos físicos ou químicos, pois eles estão além da nossa vivência.


Tente imaginar como funcionam um átomo, elétron ou próton. Não conseguimos sem que nos façam uma associação com coisas que vemos em nosso dia a dia. Neste caso, precisamos de desenhos, como esse aí do lado, para termos uma ideia de como eles funcionam. Mas devemos saber que não tem nada, nada, a ver com isso no mundo real.

Veja neste link e entenda mais coisas que nosso cérebro não foi feito para entender.

E aqui um trecho do livro de Richard Dawkins sobre o assunto.

Como não conseguimos enxergar estes processos, nós criamos arbitrariamente, pontos determinantes para dizer o que é tal coisa ou quando aquilo aconteceu ou como aconteceu.

O ciclo da água por exemplo. Esse ciclo não para para que nós possamos vê-lo. Ele é contínuo. Mas a única forma de entendermos é essa: separarmos por processos bem definidos e desenhá-los se possível.

Usando o exemplo do Pirulla: no dia do seu aniversário você se sente mais velho? Óbvio que não. A data do seu aniversário é uma arbitrariedade pois precisamos de um método para contar os anos das pessoas. Existem pessoas que, devido a forma como foram criadas, ou pelas dificuldades que enfrentaram na vida desde cedo, tem a tendência a parecerem mais maduras antes das outras.

Ou seja, a idade é um método arbitrário de contagem, mas não diz qual idade cerebral nós temos _ e é esse o processo que nós não conseguimos enxergar.

Eu que gosto de história, passo por isso quando faço um post dizendo: o motivo da primeira guerra acontecer foi a morte de Francisco Ferdinando e de sua esposa Sofia. Quando sabemos que tudo é mais complicado do que isso, que existe um cenário gigantesco por detrás de tudo.

Nesse caso, seria mais correto dizer que esse evento foi o gatilho para o que se seguiu.

De acordo com o senso comum, é costume dizer que os homens não sabem ou não conseguem diferenciar tons de uma mesma cor (o que é uma bobagem). Mas a questão aqui, é que mentes não treinadas para saber diferenciar cores, não o conseguirão fazer.
Se a cor apresentada for azul celeste, azul royal ou azul esverdeado, pode não fazer diferença para essa mente não treinada.

Mentalidade Binária.

Finalmente, após entender os conceitos acima, podemos prosseguir:

Mentalidade binária é desconsiderar que as explicações para os assuntos da vida são muito mais complexos do que aparentam ser, e tentar encaixar estas explicações, ou visões de mundo, em apenas dois conceitos restritos e opostos entre si.

Ou você é do bem ou você é do mal.

Que é ser do bem, que é ser do mal ? Se estiver contra o bem é automaticamente mal e vice versa? Não existem variações de atitudes boas e más no decorrer de tudo isso? E, para sabermos tais coisas, precisaríamos novamente voltar as duas primeiras perguntas: que é bem, que é mal ?

É como se nós tivéssemos que sempre ter um lado, sempre temos que resolver os dilemas que a sociedade nos impõe, dizer sim ou não.

Depende, talvez? 
Isso é coisa de gentinha que fica em cima do muro e não sabe decidir. 
Gentinha sim!
Ser humano de verdade, tem que saber escolher um lado!
Parceiro: é 8 ou 80!!

Esse tipo de pensamento pode polarizar a já polarizada sociedade em que vivemos.

Heterossexual ou homossexual; Ateísta ou teísta; branco ou negro; rico ou pobre; cientista ou teólogo; tucano ou petista; democrata ou republicano; coca-cola ou pepsi; Guns'n'Roses ou Nirvana; Rock'n'Roll ou funk; capitalista ou socialista; católico ou protestante; corintiano ou anti-corintiano; blogueiro progressista ou p.i.g.; modelo padrão ou teoria das cordas; vegetariano ou onívoro; frango assado ou frango frito (eu gosto dos dois!!); bacon ou carne de soja; paulista ou nordestino; Vingadores ou Liga da Justiça; microsoft ou linux; asp ou php...

Enfim.

Parece que não, mas esse tipo de mentalidade só nos dividem cada vez mais. Uma sociedade toda que não consegue ver que estas diferenças, quando não criadas pelas forças econômicas, são meras bobagens. Discordar de pontos de vista é perfeitamente normal, o que não é normal, são frentes se unirem e se oporem, quando poderiam resolver tudo no diálogo.

Enquanto isso, os ricões tão lá... rindo-se das castas mais baixas. Eles acho que não discordam muito uns dos outros, não é mesmo?!

As forças econômicas aprenderam muito bem com o pequeno gigante Napoleão: Dividir para conquistar!


Auf Wiedersehen!!

A maldição da mente descontínua





[Comentário em 16/05/2020: ]

Estava relendo o texto, anos depois, e foi uma experiência interessante. Encontrei alguns sexismos no texto, e os refiz, pois eram exemplos totalmente sem sentido. 

A conclusão do texto, que se encontra no subtítulo "Mentalidade Binária", não representa exatamente aquilo que acredito nos dias de hoje, sem contar, que ficou mal escrita. Passei por n conceitos, e finalizo com exemplos pobres, pouco explicativos.

Trazer o conceito de mente descontínua foi interessante, porque nós seres humanos, somos de fato seres com muitas limitações, e necessitamos criar analogias, conceitos de substâncias abstratas, de fenômenos que escapam às nossas percepções sensoriais.

Sendo mais claro, trago de volta o exemplo do ciclo da chuva. Na natureza esse processo acontece a todo momento, de forma dinâmica e em grande parte invisível aos nossos olhos. Podemos até ver uma pequena  porção de água sendo condensada, ou ver a chuva caindo, mas não temos acesso ao que ocorre na terra, nos lagos, na atmosfera _ pelo menos não sem instrumentos que nos auxiliem nessa tarefa.

Mas para termos compreensão do que acontece, precisamos estabelecer critérios bem definidos, criar marcos, momentos em que tais fenômenos ocorrem,e descrever por que ocorrem, um após o outro, como se fossem estáticos _ assim como na imagem do exemplo.

Essa dificuldade de apreender fenômenos físico-químicos também se aplica ao chamado mundo social. Nesse amaranhado de informações, notícias, acontecimentos, sem o devido estudo (e eu diria que às vezes mesmo tendo estudo) é bem complicado entender as razões pelas quais muitos fenômenos sociais acontecem.

A dificuldade de entender tais processos em sua totalidade, nos torna propensos a entender como realidade aquilo que se apresenta como real, e que não sendo o real, é apenas sua aparência. E essa aparência é também uma deformação do real, ou seja, a realidade se apresenta de uma forma, e acreditamos que as coisas sejam de outra forma.

Essa degradação é capaz de gerar simplificações. E aqui vale uma ressalva: uma coisa é esmiuçar  processos complexos, e criar analogias e conceitos para facilitar seu entendimento; outra coisa, é reduzir tais processos, tornando-os aparentemente mais simples do que fato são.

Essa simplificação cria noções _ e leis _ daquilo que é ou não aceitável dentro da sociedade, independente se são reais ou não.

Um exemplo antigo e atual, é a questão da descriminalização das drogas. Esse tema costuma a ser reduzido em termos de: "você é contra ou a favor?". E veja, essa questão começa pela dificuldade de definir sobre quais substâncias estamos falando: açúcar? álcool? tabaco? analgésicos? cigarro eletrônico?

Diante dessa simplificação, será comum encontrar uma pessoa, que enquanto fuma seu cigarro e traga sua dose de whisky, afirmar que é contra as drogas.

Essas simplificações vão se estender para muitos outros temas dentro da sociedade, que serão geralmente reduzidas a duas posições antagônicas entre si (os tais falsos dilemas), cabendo as pessoas apenas se colocarem de um lado da questão ou de outro.

Aqui o exercício da crítica se faz necessário para combater as simplificações, mistificações, e ir sempre na raiz das questões, a fim de entendê-las em sua totalidade.

Observe que aqui, não se trata mais de uma mera questão de isenção ou neutralidade (termos que não dizem muito, pois sempre partimos de pressupostos), ou de simplesmente buscar o caminho do meio. A busca é pela radicalidade _ pela raiz _ pela compreensão da realidade, a fim de afastar o véu da aparência que a ideologia (ou as ideologias) dominante coloca sob a realidade.


Bom, quem sabe daqui mais 8 anos volto nesse texto, e ainda acrescento mais notas?

Postar um comentário

1 Comentários

  1. O texto ia bem até o meio. Depois, o próprio torna-se falaciosamente contraditório.

    ResponderExcluir